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Pequenas estrelas que mudam de cor, frias

pêras ao alto

de raízes queimadas, ainda doces, profundamente

cor de turquesa - eu tudo sei.

Como a época leve que entra,

como as crianças que despertam e sorriem

lapidarmente, e morrem

sem que se note, na própria clareira viva

do seu sorriso.

A onda que envolve os peixes, e dos peixes

absorve o rápido estremecimento - eu tudo sei.

Porque mudo, queimo-me.

Porque as ondas me batem na boca.


Pequenas estrelas passadas de cor para cor, pêras

que rolam de um degrau

para outro degrau de amadurecimento. Enquanto

estou deitado sob o céu brutal, e a noite

avança terrivelmente plácida.

E por baixo a terra vive, abstracta

e espalhada.

Quero dizer: eu tudo sei.

Junto aos ossos em gelo bate uma veia

que sobe, quente; que em silêncio ascende

e bate na língua: - Eu amo o pão que amadurece

no fogo.

Amo a ideia que a morte alimenta

agora na noite. Cinza sobre pepitas.

O açafrão nas pedras encarnadas.


Cerro os olhos para ouvir durante toda a noite,

e todo o mês, e recomeçando no interior

da minha vida - o sangue.

Amarga e difusa loucura do sangue

cercado pelo mundo - eu tudo sei.

Humildade e esgotamento e, quando

a boca estremece, tarefa e depois solidão.

Sei como se pensa obscuramente.

Vejo que a luz se encurva nos campos de urtigas,

e a mão se encurva na luz.

A mão que retém a faca e desliza

sobre a mesa ao encontro do pão maduro.

Porque eu amo a fome.


E eis que todo esse puro tempo passado

se levanta, enquanto respiro debaixo da luz.

Com a dor dentro, levanta-se; com

um forte delírio e a luz imensa - e eu sei.

Ouçam: é neste país onde cheiro

um ramo de sal, a terra pútrida.

Amo a penumbra de uma cara, a brancura

parada de um sorriso no meio da água

profundamente esquecida - sei

tudo, tudo.

Que nada existe e as coisas nascem no tocar

de minha mão inundada.

E é preciso esperar enquanto se morre,

e fica o campo sob o céu que se queima

preciosamente.

Tenho agora a idade - e sei tudo.

Digo: minha alegria é tenebrosa.


E eu desejaria levantar-me levemente

sobre as paisagens que se enchem de chuva

apaixonada.

Desejaria estar em cima, no meio da alegria,

e abrir os dedos tão devagar que ninguém sentisse

a melancolia da minha inocência.

Tanto desejaria ser destruído

por um lento milagre interior.


Cegar com o rosto contra um ramo abrupto

de relâmpagos.

Eu sei. Quero dizer: eu amo

essa morte no meio da luz, entre crisálidas e gotas,

à noite, de dia -

quando o mês se extingue num supremo amadurecimento.



(a itálico, o extracto publicado aqui)

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